Como lidar com a "escolite" e proteger os pequenos

Se você é pai ou mãe, talvez já tenha ouvido falar sobre a "escolite" (ou síndrome da creche). Esses termos costumam ser populares entre as pessoas que têm filhos em idade escolar ou que frequentam creches e ficam ainda mais evidentes no período de volta às aulas.1

Quando as crianças iniciam a vida pré-escolar, é muito comum que elas comecem a apresentar sintomas recorrentes de diversas doenças que são bem corriqueiras durante a infância. E é aí que os pais e cuidadores ficam constantemente preocupados, afinal, ninguém quer ver os pequenos doentes o tempo todo.1

Neste artigo, vamos entender melhor do que se trata a “escolite”, revelando por que seu filho fica muito doente na escola e se ele pode ir para a escola gripado, por exemplo. Por fim, você ainda vai saber o que pode ser feito para aumentar a imunidade das crianças e evitar que elas adoeçam com tanta frequência. Então, continue a leitura!


Entendendo a “escolite”

Já faz algum tempo que as creches se tornaram essenciais para o funcionamento das famílias modernas. Isso porque boa parte das mães e dos pais passam muito tempo fora de casa trabalhando e precisam de um lugar de confiança para deixar seus filhos pequenos.2

Entretanto, a introdução de um bebê na creche, especialmente nos primeiros doze meses de vida, representa um período crítico, que impacta não apenas na vida da criança e de seus familiares, mas também na dos profissionais da instituição.2

Trata-se de uma importante fase de adaptação, com muitas mudanças na rotina e nos hábitos, o que demanda muita energia da criança. Tudo isso pode resultar em um desgaste físico e, por consequência, no surgimento de doenças.2

Nesse período, não é raro que as crianças apresentem choro, apatia, resistência à alimentação e ao sono, além de sintomas físicos.2 Mas há ainda outros fatores específicos do ambiente escolar que favorecem o adoecimento dos pequenos. É nesse contexto que surge a chamada síndrome da creche ou “escolite”.1

Portanto, você precisa ter em mente que a "escolite" não é uma doença em si, mas uma situação caracterizada pelo aumento da frequência de doenças infecciosas em crianças que vão a creches ou escolas - principalmente aquelas que estão indo pela primeira vez a essas instituições.1 Vamos entender um pouco mais sobre isso a seguir!

Afinal, por que meu filho fica muito doente na escola ou na creche?

Professora está no chão com crianças pequenas, ensinando a usar um ábaco

Além da mudança na rotina dos pequenos ao iniciarem suas vidas escolares, as creches e pré-escolas são locais favoráveis para a proliferação de doenças, principalmente por serem um espaço de convívio muito próximo entre crianças e adultos. Em outras palavras, esses estabelecimentos abrigam crianças aglomeradas que recebem assistência de forma coletiva.3

Outro ponto importante sobre a escolite é que crianças pequenas têm hábitos comuns para a idade que facilitam a disseminação de doenças. É o caso de levar as mãozinhas e os objetos à boca, a falta da prática de lavar as mãos, a necessidade de contato físico direto e constante com os adultos, entre outros.3

Existe também um fator muito importante que é específico dessa fase: a imaturidade do sistema imunológico3, deixando a "porta aberta" para mais infecções. E ainda há disfunção de algumas partes do corpo, em particular a tuba auditiva, o que favorece a ocorrência de otite média aguda, por exemplo.3

Leia também: Saiba quais as causas da dor de ouvido, formas de tratamento e por que é mais comum em crianças

Vale ressaltar que, em geral, é esperado que os pequenos fiquem doentes com mais frequência. Para se ter uma ideia, especialistas estimam que, na média, as crianças contraiam de 6 a 8 infecções respiratórias a cada ano.4

Assim, é razoável pensar que as crianças que frequentam creches e pré-escolas são mais vulneráveis a diversas infecções causadas por vírus e bactérias, uma vez que elas estão em contato próximo umas com as outras e muitas dessas doenças são contagiosas.4

Principais doenças relacionadas à escolite

Conhecendo o contexto por trás da síndrome da creche, é provável que muitos pais se perguntem quais são os principais problemas que podem acometer as crianças no período pré-escolar. Nesse sentido, há várias doenças “típicas” de creches e escolas3, como:

  • resfriados;3
  • faringites (inflamação na garganta);3
  • sinusites;3
  • bronquites;3
  • bronquiolites;3
  • pneumonias;3
  • otite média aguda (infecção de ouvido);3
  • doença diarreica (causada por vírus, bactérias, parasitas);3
  • doença invasiva bacteriana por Haemophilus influenzae ou Streptococcus pneumoniae (associada a casos de meningite e pneumonia);3
  • hepatite A;3
  • citomegaloviroses;3
  • catapora (causada pelo vírus Varicela-zoster);3
  • herpes simples.3

Além disso, há outras doenças contagiosas que também são comuns em ambientes escolares, como conjuntivite4, doença mão-pé-boca4 e caxumba5. Portanto, aqui, reforçamos que é essencial consultar um pediatra ao notar qualquer sintoma diferente na criança, para que ela receba o diagnóstico correto e o tratamento mais adequado.

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Afastamento escolar: meu filho pode ir para a escola gripado ou com alguma doença da escolite?

Pai levando seus dois filhos para a creche

Primeiramente, lembre-se que os problemas envolvidos na escolite são tipicamente contagiosos - e isso vale também para quadros gripais. Por isso, a recomendação geral é de que crianças doentes não sejam levadas à creche ou escola.5,6

De forma geral, os pequenos devem permanecer afastados do ambiente escolar caso estejam com qualquer um dos seguintes sintomas:

  • febre;5
  • tosse;5
  • espirro;5
  • coriza;5
  • dor no corpo;5
  • perda de paladar;5
  • dor de cabeça;5
  • conjuntivite;5
  • vômito;5
  • diarreia.5

De todos, a febre é o sinal que mais exige atenção dos pais ou cuidadores, já que serve como um alerta de que algo no corpo da criança não está bem. Sem contar que ela pode estar ligada a diferentes quadros, desde infecções leves a problemas mais sérios.5 Descubra qual a temperatura normal do bebê, o que é estado febril e os perigos de uma febre alta.

Então, na hora de decidir se a criança deve ou não ir à escola, é fundamental avaliar o quadro geral do pequeno. Em casos de viroses mais leves, por exemplo, os especialistas indicam observar a criança em casa por 48 horas antes de deixá-la em contato com os coleguinhas.5

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E agora, como posso evitar que meu filho fique doente na creche ou escola?

Agora que você sabe tudo sobre a escolite, chegou o momento de entender como é possível proteger os pequenos das doenças escolares. Junto com ações que devem ser realizadas em parceria com a própria criança, há também algumas medidas preventivas que podem (e devem!) ser adotadas tanto pelos pais quanto pela própria escola3,7,8, como:

  • lavar as mãos constantemente e estimular as crianças a também lavarem as mãos antes de comer, ao usarem o banheiro (ou após a troca de fraldas) e depois de tocarem qualquer coisa em locais públicos;3,7,8
  • ter uma rotina de cuidados para trocar fraldas;3
  • higienizar frequentemente os ambientes frequentados pelas crianças;3,8
  • manter os ambientes bem ventilados;8
  • usar lenços descartáveis para a limpar as crianças;3,8
  • evitar o compartilhamento de alimentos, material escolar ou objetos de uso pessoal das crianças;8
  • não levar a criança doente para a escola.8

Como aumentar a imunidade do bebê que vai para a creche e das crianças em idade pré-escolar?

Há também algumas ações que ajudam a fortalecer as defesas naturais das crianças contra vários agentes causadores de doenças da escolite. Então, vamos conhecer a seguir algumas maneiras de aumentar a imunidade dos pequenos:

Manter as vacinas em dia

A vacinação é uma das ações mais efetivas de saúde pública para a prevenção de doenças infectocontagiosas. Ela também é crucial para o amadurecimento do sistema imunológico das crianças, ajudando a proteger os pequenos contra problemas graves, como o sarampo.4,8,9

Lavar as mãos

Para evitar a propagação de germes, é importante incentivar os pequenos a lavarem as mãos constantemente, principalmente após usar o banheiro, antes das refeições, sempre que se expuserem a algum tipo de sujeira e ao voltarem de ambientes externos ou públicos.4,9

Regular o sono

Manter uma rotina de sono, com horários consistentes para dormir e cochilar, é essencial para fortalecer o sistema imunológico das crianças. Isso porque é durante o sono que o corpo recupera energias para combater possíveis invasores.9

Brincar ao ar livre

Apesar de ser importante evitar a exposição excessiva a lugares com muita sujeira, brincar ao ar livre favorece o contato com microrganismos que vão fortalecer o sistema imunológico infantil. Vale ressaltar também que os germes se concentram menos em espaços ao ar livre, mesmo durante o inverno.9

Se alimentar e se hidratar bem

Beber água é fundamental para um sistema imunológico saudável, pois ela é responsável por hidratar e levar nutrientes para o corpo todo. A alimentação saudável e balanceada também ajuda o organismo a funcionar normalmente.4,9

Recadinho para os pais

Sabemos que nem sempre é fácil afastar a preocupação com seu filho pequeno doente, mas tente se lembrar nessas horas que a criança em idade pré-escolar tem infecções virais frequentes e isso é benéfico a longo prazo, pois estimula seu mecanismo imunológico.10 E, com o tempo, as doencinhas serão cada vez menos recorrentes! Ainda assim, em caso de dúvida ou se notar a criança diferente do normal, procure o pediatra.

Antes de ir, aproveite para conferir outros artigos que separamos para você e que podem te ajudar a lidar com as crianças doentes em casa:


Dezembro/2023. MAT-BR-2401454

Referências bibliográficas:
  1. Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (SIEEESP). Volta às aulas: saiba o que é a escolite ou "síndrome da creche". Disponível em: https://www.sieeesp.org.br/index.php?mact=News,cntnt01,detail,0&cntnt01articleid=3194&cntnt01returnid=66. Acesso em 15 de dezembro de 2023.
  2. Andrade MAC, Rodrigues MMP. Indicadores de adoecimento antes e após o ingresso da criança na creche. Journal of Human Growth and Development. 2005. 15(2), 13-21. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822005000200003. Acesso em 15 de dezembro de 2023.
  3. Nesti MMM, Goldbaum M. As creches e pré-escolas e as doenças transmissíveis. J Pediatr (Rio J) [Internet]. 2007Jul;83(4):299–312. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jped/a/GF5Z5cp8X5SczvmJjVgbsGP/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 15 de dezembro de 2023.
  4. Verywell Family. Daycare Syndrome and Frequent Infections. Disponível em: https://www.verywellfamily.com/daycare-syndrome-and-frequent-infections-2634485. Acesso em 15 de dezembro de 2023.
  5. Prefeitura de João Pessoa (PB). Profissionais de Saúde alertam aos pais para não levarem crianças adoecidas às escolas. Disponível em: https://www.joaopessoa.pb.gov.br/noticias/profissionais-de-saude-alertam-aos-pais-para-nao-levarem-criancas-adoecidas-as-escolas/. Acesso em 15 de dezembro de 2023.
  6. Centro Estadual de Vigilância em Saúde. Governo do Rio Grande do Sul. Orientações para escolas - Medidas de prevenção e controle da Influenza (Gripe) para a comunidade escolar. Disponível em: https://www.cevs.rs.gov.br/orientacoes-para-escolas. Acesso em 15 de dezembro de 2023.
  7. Cleveland Clinic. How to Keep Your Kids Healthy When They Go to Daycare. Disponível em: https://health.clevelandclinic.org/day-care-diseases-how-to-keep-your-kids-healthy. Acesso em 15 de dezembro de 2023.
  8. Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos - Bio-Manguinhos. Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.bio.fiocruz.br/index.php/en-us/noticias/3153-volta-as-aulas-vacinacao-em-dia-ajuda-a-crianca-a-ficar-protegida-ao-longo-de-todo-o-ano. Acesso em 15 de dezembro de 2023.
  9. Cleveland Clinic. How To Prevent Your Kids From Getting Sick. Disponível em: https://health.clevelandclinic.org/how-to-prevent-spread-of-germs. Acesso em 15 de dezembro de 2023.
  10. Murahovschi. J. A criança com febre no consultório. Jornal de Pediatria. Sociedade Brasileira de Pediatria. Disponível em https://www.scielo.br/j/jped/a/jFq9jVMGQyXns5KqXwLXT7p/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 15 de dezembro de 2023.